No Dia Internacional da Visibilidade Trans, 31 de março, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Faculdade Pio Décimo, realizou a roda de conversa - “Pela voz trans” -, com o objetivo de oportunizar o conhecimento e discussão sobre a realidade social das pessoas trans.No Brasil, em 2021, foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans – sendo 135 travestis e mulheres transexuais, e 5 homens trans e pessoas transmasculinas -, segundo dados do Dossiê Assassinatos e Violência Contra Travestis e Transexuais brasileiras em 2021, publicado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).Pelo 13º ano consecutivo o Brasil continua sendo o país que mais assassina pessoas trans, de acordo com o relatório de 2021, da Transgeder Europe (TGEU), publicado em 23 de janeiro de 2022.Para a Presidente do DCE e estudante do 6º período de Direito, Camilla Mecenas, levar a temática LGBTQIA+ para dentro do ambiente acadêmico é uma forma de tentar amenizar o preconceito existente na sociedade. “É bem notório como a transfobia, homofobia e todos os preconceitos relacionados a comunidade LGBTQIAP+ estão muito presentes, seja no ambiente de trabalho ou acadêmico. E, eu fico bastante contente com o fato de não apenas promover essa roda de conversa, mas pelo interesse dos alunos em querer desconstruir esse preconceito”, afirma.A primeira mulher trans eleita para um cargo público parlamentar em Aracaju e no estado de Sergipe, Linda Brasil, participou da roda de conversa e falou sobre a vivência transsexual em espaços políticos. “É muito importante a gente participar da política, porque a falta de representatividade faz com que algumas políticas públicas para a nossa população [trans e travestis] não sejam nem discutidas e, principalmente, aplicadas”, ressalta a vereadora.Durante a graduação em Letras – Francês e Português, na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Linda Brasil sofreu transfobia ao não ter seu nome social respeitado por um professor. Após entrar com um processo administrativo, a UFS regulamentou, através da portaria n° 2209, o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros acadêmicos da Universidade.Linda Brasil foi a primeira mulher trans a se formar na UFS e afirma que a falta de respeito ao nome social é umas das questões de políticas públicas que precisam ser trabalhadas no munícipio. “O acesso a saúde ainda é muito deficitário, a segurança pública, a educação – muitas pessoas acabam se evadindo dos espaços escolares por falta do respeito a identidade e nome social - e a questão do uso do banheiro [por pessoas trans]”, diz Linda.O psicólogo e criador do projeto Transformarte, Bernardo Vincente, também esteve presente no evento e falou sobre os impactos psicológicos causados pela transfobia. “A sociedade ainda não está preparada para lidar com as diferenças e cada vez mais isso ‘tá’ afetando à população trans - causando depressão, ansiedade e aumento no número de suicídios”, destaca o psicólogo.Para Bernardo, o evento é uma oportunidade que as pessoas tem para perguntar como pode contribuir e o que pode evitar para que o respeito à diversidade seja garantido. “Aqui é o lugar certo. Nas instituições de educação devem ter esse ensino. As pessoas precisam estudar sobre a comunidade LGBTQIAP+, porque muitas vezes a gente ‘tá’ nessa situação porque as pessoas não estudam, não entendem e não tem o interesse em procurar”, afirma.Segundo o egresso de Direito da Faculdade Pio Décimo, Henrique Andrade, voltar a debater essa questão na Faculdade, agora como Presidente da Comissão de Direitos LGBTQIA+ da OAB/SE, é gratificante, especialmente quando é um incentivo dos próprios estudantes.Para Henrique, em relação a garantia dos direitos, a legislação brasileira para as pessoas trans tem avançado, porém esse avanço precisa acontecer com todos os Poderes e, principalmente, com a participação da sociedade civil. E para esse avanço aconteça “a gente precisa promover um debate nacional com a comunidade e com os poderes [Executivo, Legislativo e Judiciário]. É indispensável. Sem apoio da sociedade civil, através de eventos como esse, a gente não vai conseguir”, ressalta o advogado.
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